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Um mês

“Nascer, morrer, renascer e progredir sempre; esta é a lei”. Este é o epitáfio do túmulo de Hippolyte Léon Denizard Rivail, o codificador do Espiritismo, que adotou o nome de Allan Kardec. Os praticantes da doutrina não a classificam como religião, mas uma espécie de filosofia e ciência que trata de um mundo que desperta curiosidade e muitas dúvidas.

Apesar de não ter certeza de nada quando o assunto é o que acontece depois de nossa “passagem”, ultimamente nutro uma forte esperança: que o outro mundo seja de muita luz, paz e acolhimento. Pois meu pai merece muito estar num lugar assim, após uma longa agonia de 47 dias, que culminou com a sua partida há exatamente um mês.

Só agora, depois desses tortuosos 30 dias, consigo escrever algo sobre o homem que me ensinou o caminho da vida, com a sabedoria que só 87 anos de experiência trazem consigo. Um brasileiro nascido em 31 de outubro de 1925, que trabalhou na lavoura e, como muitos, recomeçou a vida deixando o sertão nordestino em busca do novo eldorado que se apresentava: um lugar no sopé da Serra do Mar, onde estava sendo erguido o maior polo industrial do País. E o paraibano de Santa Luzia se tornou, com muito orgulho, cubatense de coração.

Aristides foi um dos trabalhadores que ergueram a imponente Companhia Siderúrgica Paulista. A falta de um diploma universitário nunca o impediu de ler, estudar e querer progredir sempre mais, acumulando certificados na escola da vida. E assim o operário virou eletricista, logo contratado pela Refinaria Presidente Bernardes, onde desempenhou com afinco seu trabalho por mais de 30 anos.

Seu Aristides, que sempre movido pelo anseio de estudar e conhecer começou a se embrenhar pelo Espiritismo, cravou: meu nome seria André Luiz, um dos espíritos mais frequentes na obra de Chico Xavier. Mas o seu lado contestador – suas brigas no meio político são um capítulo à parte – falou mais alto. Com a audácia de discordar do espírito iluminado em algumas posições, mudou de ideia. Homenagearia o codificador da doutrina: e o André Luiz aqui virou Allan Kardec, nome de grande responsabilidade, mas também de muita sorte.

Batalhador, íntegro, brasileiro. O homem humilde conseguiu criar e educar seis filhos e ver crescerem oito netos. O mesmo espírito de luta e perseverança que o fez vencer na vida o fez enfrentar com coragem e fé a agonia de um longo e sofrido tratamento de sérios problemas de saúde.

Já virou lenda na Beneficência Portuguesa de Santos o seo Ari, fênix que por tantas vezes ressurgiu das cinzas nos quase dois meses de internação, impressionando e emocionando médicos e enfermeiros.

Mas Deus quis que essa bela história se encerrasse neste plano. Apenas por aqui, porque algo me diz que ela continua, em outro lugar, bem mais perto d’Ele.

Com saudade, mas acima de tudo com muito orgulho e amor, digo: obrigado por tudo, pai.

Até um dia. Bons debates espirituais aí no Céu.

E mande um abraço para o meu xará.

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2 comentários em “Um mês”

  1. Não tinha visto esta foto. Imagem linda! Post muito emocionante também. Beijos

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