Decepção. Esta é a palavra que define o que aconteceu nesta quarta-feira (31) no Bloco Cultural. Um evento – que até agora está sem definição, mas que com certeza não pode ser chamado de audiência pública – promovido pelo Governo do Estado para apresentar o famigerado e polêmico Programa de Recuperação Socioambiental da Serra do Mar, gerou protestos, bagunça e factóides políticos, menos o principal: esclarecer aos moradores das Cotas presentes os objetivos e o funcionamento do projeto.
Desde a véspera, já se sabia que os ânimos estariam agitados e a disputa política estaria armada. Por ordem de membros do Palácio dos Bandeirantes, o diretório municipal do PSDB se reuniu na terça-feira à tarde para traçar estratégias de defesa do programa durante o evento do dia seguinte. Por outro lado, o diretório municipal do PT também se movimentou e elaborou um manifesto público, que foi entregue durante a reunião no Bloco.
Quando o atual coordenador do programa, o polêmico coronel da Polícia Militar Elizeu Eclair Teixeira Borges, chegou ao recinto, o sinal verde estava dado. Dezenas de manifestantes trajando camisetas exigindo uma audiência pública sobre o projeto desenrolaram suas faixas e começaram a bradar para as equipes de TV que cobriam o evento. Eclair, já acostumado a protestos e caras feias, mal se importou e continuou a falar com a imprensa. Disse que não via movimentação política nos protestos e disse que considerava normal a situação. Quem não tinha o mesmo treinamento militar chegou a se assustar.
O estopim final foi a contratação de um mediador independente, que fez questão de dizer que não tinha ligações com o Governo do Estado e que tinha sido chamado apenas para o evento. Melhor que não fosse. Rígido e por vezes falando alto demais, tentou em vão combater cada grito e questionamento dos manifestantes. Ao dizer que não formaria uma mesa e que as autoridades responderiam aos questionamentos da plateia e poucos minutos depois fazer exatamente o contrário, a bomba estourou.
Gritaria, protestos, escândalo, perplexidade. Os manifestantes, que dizem representar as partes envolvidas, misturando moradores das Cotas com habitantes do Jardim Casqueiro, bradaram e ensaiaram uma retirada, dizendo que não teriam espaço no evento.
Tentando consertar a situação, mais de 90 minutos depois do início da reunião, o mediador chamou as autoridades municipais, sem antes dizer, desastrosamente, que não havia representantes do município presentes. Os manifestantes ficaram e grande parte deles prostrou-se no palco, atrás dos representantes estaduais.
A partir daí, nove em cada dez pessoas da sociedade pré-inscritas para falar e/ou fazer perguntas acabou criticando severamente a postura do Governo do Estado e o programa. Muitos integrantes do movimento protestante. Outros, reconhecidos líderes partidários, tanto do PSDB quanto do PT. Eclair mantia-se impávido, tentando argumentar a cada reclamação, muitas vezes sem sucesso, frente ao barulho provocado pelos que manifestavam. E assim foi até o início da noite.
Acesse duas versões sobre o programa: uma do Governo do Estado e outra da Prefeitura de Cubatão.
Falta menos de um ano para as eleições de 2010, que dividirá grande parte dos eleitores em duas frentes: a tucana e a petista. Do lado do Governo de José Serra, o projeto de recuperação da Serra do Mar pode ser a sua grande vitrine política para o pleito presidencial. Para o lado vermelho, é complicado abrir espaço para o grande projeto tucano, do qual será apenas coadjuvante e não terá participação.
Aliado à truculência e falta de diálogo, o palco para um triste espetáculo está armado. E o próximo round desta luta já está marcado: dia 14, às 18h30, na Capela Nossa Senhora Aparecida (Rua 7, 351, Pinhal do Miranda). Que o espírito conciliador e de bom senso do falecido Rubens Lara impere e que os mais afetados no meio deste furacão, os moradores de Cubatão, saiam ganhando.