Em entrevista a este jornalista, o secretário de saúde de Cubatão, Vanderjackson Andrade, explica em detalhes o que é a famigerada gripe suína e garante que o município está preparado para tratar de todos os eventuais casos da nova gripe. Até a tarde desta sexta-feira (31), a Cidade totaliza três casos suspeitos da doença – dois em análise e um já descartado.
ALLAN – Há motivo para a população ficar preocupada com a nova gripe?
VANDERJACKSON – Não há motivo para alarde. A gripe comum foi responsável por 70.142 mortes ou internações em 2008 no Brasil. A gripe suína, até agora, provocou menos de 100 mortes no País. Neste momento, estamos no pico da epidemia, já que o frio é um período mais propenso à proliferação do vírus, que sobrevive melhor em clima menos quente. Neste período do ano, as pessoas costumam deixar suas casas menos arejadas, menos ventiladas, o que ajuda na propagação da gripe. Com o calor, felizmente isso tenderá a cair. Ainda assim, esta gripe tem um índice de mortalidade semelhante à comum, até talvez menos grave. Por que esse alarde todo então? A grande questão é que pela primeira vez a gente tem uma epidemia acompanhada e notificada em tempo real. Qualquer caso já é objeto de debate e repercussão nos meios de comunicação. Com isso, há uma valorização muito grande da realidade, mas não há motivo nenhum para pânico. Os dados mostram que o adoecimento e mesmo as mortes provocadas por essa gripe têm sido iguais ou até menores quando comparadas com a gripe comum. Com a chegada de um clima mais quente a expectativa é a de que diminua a proliferação do vírus e no próximo inverno com certeza haverá uma vacina.
A Cidade está preparada para um possível surto da doença?
A Cidade está absolutamente bem preparada, está muito tranquila a nossa situação. Temos disponível o Tamiflu, que é um medicamento antigripal indicado para todas as gripes, inclusive a nova. Nossas equipes de saúde e de educação estão preparadas e sendo treinadas. Nesta semana estamos treinando os profissionais que atuam nas creches, que ficarão fechadas até o próximo dia 17, de acordo com critérios de prudência do Ministério da Saúde e do Governo do Estado. As unidades de ensino seguirão a medida para evitar aglomerações e fatores de risco para a proliferação da nova gripe. Todas as unidades de saúde foram visitadas e treinadas com materiais de apoio preparados por nós para os profissionais da área e para a população. Estamos desenvolvendo um trabalho junto aos caminhoneiros – já que Cubatão tem uma média de 9 mil caminhões circulando por dia, muitos dos quais vindos de regiões do Mercosul e do Sul do País com um alto grau de contágio pela nova gripe. Cada caminhão vem com até dois passageiros, o que dá cerca de 15 mil pessoas circulando pela Cidade por dia. Estamos com equipes distribuindo materiais informativos e conversando com os caminhoneiros, que estão contribuindo muito bem. Temos equipes nos três pronto-socorros municipais preparadas para atender à população. No hospital Dr. Luiz Camargo da Fonseca e Silva temos seis leitos disponíveis (quatro para adultos e dois para crianças) para eventuais internações e casos suspeitos que necessitem de isolamento. Para casos mais graves, temos leitos na UTI à disposição. A Cidade está muito bem preparada. Nós sabíamos que essa gripe iria chegar, por isso nos preparamos.
Quais os cuidados que a população deve tomar e que situações deve evitar?
A prevenção é o mais importante neste caso. Basta tomar as medidas de higiene fundamentais, como lavar as mãos pelo menos dez vezes por dia e procurar não tocar muito no rosto, especialmente o nariz, boca e olhos. Se estiver com algum mal estar comum da gripe, ficar em casa e evitar sair e manter contato com outras pessoas. A casa deve estar a mais arejada e limpa possível, porque basicamente são as gotículas de saliva que levam a gripe e que provocam o contágio. Essas gotículas acabam saindo durante a fala, no espirro e na tosse, portanto nessas situações procurar colocar um lenço na frente da boca. O vírus sobrevive no meio ambiente e alguém pode passá-los a objetos, como maçanetas e mesas. Por isso que se deve lavar bem as mãos e várias vezes por dia.
Um dos símbolos dessa pandemia são as máscaras cirúrgicas. Quando o seu uso é indicado?
A máscara deve ser usada somente em algumas situações. Se a pessoa com sintomas de gripe estiver sozinha, é desnecessário, nem mesmo se estiver ao ar livre, desde que não tenha pessoas muito próximas dela. Se houver alguém próximo dessa pessoa cerca de 1 metro, neste caso é indicado ao doente o uso da máscara. Quem não tem nenhum sintoma de gripe não deve usar máscara. Em ambiente hospitalar, a orientação é que qualquer pessoa que chegue com sintomas de gripe deve receber a máscara. Essas pessoas ficarão assim até serem atendidas e deixadas mais de 1 metro distantes dos outros pacientes, não necessariamente em outras salas. Quanto aos funcionários, só usarão máscaras aqueles que mantiverem contato próximo com os pacientes.
Quando deve-se procurar um serviço de saúde?
Nesse momento, qualquer sintoma de gripe já é o suficiente para procurar uma unidade de saúde mais próxima. Qualquer hospital está capacitado para atender à população. Se o caso não precisar de maiores cuidados, o paciente será medicado e voltará para casa. Essa gripe tem um período de incubação de 5 a 7 dias, o mesmo que uma gripe comum, podendo chegar a 10 dias. Nesse tempo, é preciso guardar repouso e a família precisa acompanhar esse período de resguardo, pois muitos infectados não apresentam sintomas, mas também transmitem a doença. É importante evitar a automedicação e buscar o apoio das unidades de saúde. Ressalto que não há motivo para pânico, pois essa gripe é semelhante à comum e merece a mesma atenção e cuidado.
Existem grupos de risco mais vulneráveis à doença?
Com certeza. As pessoas que estão tendo sintomas mais graves são as que já têm problemas de saúde, como doenças respiratórias (asma, bronquite e tuberculose), fumantes, cardíacos, obesos mórbidos, gestantes e pacientes com problemas na imunidade do corpo (como portadores de Aids, em tratamento de câncer, ou qualquer tratamento cujos medicamentos reduzam a resistência).
Qual a diferença entre as gripes e um simples resfriado?
A gripe é causada só pelo vírus influenza, que tem vários tipos que sofrem muitas mutações. Um deles predomina a cada ano. Existem observatórios internacionais de gripe, que recolhem amostras do mundo inteiro e anualmente fazem uma vacina dos tipos de vírus predominantes. Por isso que a vacinação contra a gripe deve ser anual. No caso do H1N1, o vírus foi uma mutação a partir de um que só acometia os porcos, mas que por essa mudança genética passou a infectar os humanos. A boa notícia é que quem tem uma determinada gripe está imune a ela. Ou seja, quem teve gripe suína não será mais acometida por ela, pois criou resistência a esse tipo de influenza. Já o resfriado que é causado por vários tipos de vírus. Os sintomas são parecidos, mas são mais fracos em relação à gripe. É uma pandemia esperada, mas que a sua gravidade é bem menor do que esperavam os cientistas. Não há motivo para preocupações, é que esta é a primeira vez em que acompanhamos em tempo real uma pandemia e todo caso ganha repercussão na mídia. Temos sim que tomar todos os cuidados como tomaríamos com qualquer gripe comum, que deve ser tratada e acompanhada por um médico.