EXCLUSIVO – Eleito deputado estadual em 2006 com 122.312 votos, o santista Bruno Covas, 28 anos, é neto do ex-governador de São Paulo Mario Covas, seu maior inspirador na política.
Advogado formado pela Universidade de São Paulo (USP), economista pela PUC-SP, e ainda, mestrando em Administração Pública e Governo, com foco em Finanças, pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), Covas concedeu a mim uma entrevista durante solenidade na Associação Comercial de Cubatão.
Na conversa, abordamos o orçamento estadual para o ano que vem, a frente parlamentar que visa o retorno à Cubatão de um campus da Escola Politécnica da USP (Poli-USP), as eleições de 2010 e a situação dos bairros-Cota, entre outros assuntos. Esta entrevista também está na edição desta semana do Jornal da Cidade e, em breve, o áudio desta entrevista irá ao ar no programa Radar Legislativo, da Rádio Cacique.
Allan Nóbrega – Como presidente da Comissão de Finanças e Orçamento da Assembleia, o Sr. teve uma grande responsabilidade, ao assumir a relatoria do projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias do Estado (LDO). Qual o balanço que o senhor faz das emendas propostas, em especial aquelas que beneficiam a Baixada Santista?
Bruno Covas – Recentemente, fui designado relator da LDO, que é uma lei prevista na Constituição de forma a ajudar o Estado a planejar o que vai fazer no ano seguinte. O projeto recebeu quase 2 mil emendas. Apresentei um parecer que acolheu 450 delas. Mudamos alguns aspectos do projeto como o que dá a garantia de que o Estado vai aportar recursos para o plano de saúde dos servidores estaduais. Alteramos 33 metas do Estado, como, por exemplo, o número de escolas abertas aos finais de semanas e a criação de mais unidades do Poupatempo. Na saúde, aumentamos os convênios com as santas casas, inclusive honrando um compromisso de todos os deputados da região para apresentar emendas destinando recursos para a compra de equipamentos para a Santa Casa de Santos, que atende a pacientes de toda a Baixada.
A – A Comissão de Finanças da Assembleia está promovendo audiências públicas nas regiões administrativas do Estado para discutir o orçamento do ano que vem. Como têm sido os trabalhos até agora? A população tem participado? Quando acontecerá a reunião na Baixada?
BC – Até o ano passado, as audiências que a Assembleia promovia eram realizadas depois da aprovação do orçamento. Agora, antecipamos a realização dessas reuniões para este mês que passou e agosto, para que quando o orçamento chegar aos deputados em 30 de setembro, a gente possa apresentar as emendas pedidas pela população. No início de agosto, faremos a audiência na Baixada e ouviremos os anseios das nove cidades da Região. Infelizmente, a participação popular é baixa. As pessoas precisam perceber que estas audiências definem investimentos em saúde, educação, habitação, enfim, influenciam o seu cotidiano. O orçamento tem suas limitações, por isso não adianta a gente querer colocar muitas obras e investimentos, mas sempre dá para alterar uma coisa ou outra, tendo em vista os pedidos da sociedade. Democracia não é só o ato de votar a cada dois anos, mas também é cobrar e fiscalizar a atuação dos políticos.
A – Com tantos escândalos envolvendo os políticos, especialmente em Brasília, um pouco dessa carga negativa acaba sobrando para os deputados estaduais? Na visão do Sr. a população tem cumprido a sua obrigação de fiscalizar e acompanhar os políticos que elegeu?
BC – É difícil definir o que é causa ou consequência da corrupção na política. Sem sobra de dúvida os escândalos em Brasília nos afetam também. Quando estourou o escândalo das passagens, pessoas me procuraram para saber se levo a família para viajar de graça também, sendo que os deputados estaduais não têm esse tipo de benefício. O importante é lembrar que o político não é sorteado para o cargo. A população é que o conduz ao poder. Se a gente não anotar quem se envolve em escândalos, certamente eles serão reconduzidos na próxima eleição. Não basta a imprensa mostrar quem é quem se as pessoas não ficarem atentas a isso.
A – O Sr. é relator do projeto de lei que proíbe a prática do nepotismo (a contratação de parentes por políticos) no Poder Legislativo Estadual. Há muito desta prática na Assembleia?
BC – O deputado estadual Pedro Tobias, do PSDB, apresentou este projeto na Assembleia, mas me procurou para ser o relator da proposta, pois nenhum deputado tinha a coragem de fazer isso. Essa ideia ficou arquivada por cinco anos. Aceitei a relatoria e incluí uma emenda que também proíbe o nepotismo cruzado (a nomeação de parentes de um deputado para trabalharem para outro parlamentar). Entendo a necessidade de você governar com pessoas de sua confiança, mas não é possível que você só confie e trabalhe com seus familiares. O projeto ainda não foi aprovado, mas estou lutando para incluí-lo novamente nas discussões.
A – Vamos falar um pouco do Programa Serra do Mar, de remoção de famílias que moram em áreas de risco na região das Cotas. Muitos moradores reclamam da forma que o Governo do Estado tem lidado com esse assunto tão delicado. Qual é a sua visão sobre essas críticas?
BC – Eu acho que o principal problema, que atrasou todo o processo, foi a morte do Rubens Lara (ex-interlocutor do Governo do Estado com os moradores, falecido no ano passado). Não existia um político mais dedicado a este tema que ele, mas pela comparação aparentemente há algum tipo de descaso, o que não está acontecendo. Pelo contrário, o governador José Serra colocou este assunto como prioritário. Quando assumiu, ele deu como exemplos de seu governo duas ações: os programas de saneamento da Baixada Santista e o de recuperação da Serra do Mar. Recentemente, tivemos a assinatura do primeiro documento do conjunto habitacional Rubens Lara, com 1.800 moradias. A gente entende a ansiedade das pessoas, afinal todos querem o seu teto, mas o Governo do Estado tem trabalhado com seriedade e a ideia é resolver uma questão crucial que envolve meio ambiente, habitação e qualidade de vida.
A – Como membro da comissão de assuntos metropolitanos da Assembleia, o Sr. acha que as cidades da Baixada trabalham pensando de forma metropolitana?
BC – Acho que cada vez mais o foco metropolitano é maior. A Agenda 21 de Cubatão é um exemplo, pois tem um amplo enfoque regional. Os prefeitos têm adquirido esta consciência com o tempo, afinal o cidadão da Baixada mora em uma cidade, trabalha em outra, estuda em mais uma e assim por diante. Claro que ainda há os que olham para o próprio umbigo e fazem um jogo de vaidades, dizendo que tal cidade recebe mais investimentos, mas a nova safra de prefeitos possui uma visão metropolitana maior que a anterior e essa consciência tem aumentado na Região.
A – O Sr. faz parte da Frente Parlamentar pró-campus de Cubatão da Poli-USP. Como estão os trabalhos?
BC – Na última reunião da frente parlamentar com a comissão de vereadores que cuida do tema, decidimos que aguardaríamos a Prefeitura enviar o projeto criando a fundação que irá gerir os recursos da Poli-USP. A partir daí, marcaremos uma reunião com a Reitoria da Universidade, que é uma peça fundamental nesse processo, tendo em vista a autonomia universitária. Se o conselho da reitoria da USP não for favorável, o campus não vai sair nunca, mesmo com todas as verbas do mundo. Também levamos essa luta para a Agem (Agência Metropolitana da Baixada Santista), para que os todos os prefeitos da Baixada participem deste processo. Quanto mais setores da sociedade forem envolvidos, mais rápido este grande sonho de Cubatão se tornará realidade.
A – Pensando no ano que vem, o Sr. pretende tentar a reeleição ou a Câmara dos Deputados? E para o Palácio do Planalto, qual é a sua opção: Serra ou Aécio?
BC – Acho que o governador José Serra reúne todas as condições para ser o candidato do PSDB. Ele se preparou para este objetivo, passando por todos os cargos eletivos possíveis da democracia brasileira. Assim como, em 2006, entendia que o momento era do Geraldo Alckmin, tenho certeza que chegou a hora do governador José Serra chegar à Presidência, embora lamento que o presidente Lula tenha antecipado o calendário eleitoral, lançando a sua candidata antes da hora. Quanto à mim, a intenção é prosseguir na Assembleia Legislativa, mas o momento de definição só será no ano que vem e muita coisa pode acontecer.