Deixo de lado a política cubatense para tratar um pouco da minha profissão. Na última semana, o Supremo Tribunal Federal decidiu por oito votos a um pela não-obrigatoriedade do diploma de jornalismo para o exercício da profissão. Esperei a poeira baixar para comentar sobre a decisão de nossos renomáveis magistrados.
Em primeiro lugar, muita gente se manifestou mas poucos o fizeram com propriedade e conhecimento de causa. Só quem vive dentro do jornalismo ou ao menos acompanha o fazer jornalístico pode ter alguma noção das implicações desta decisão para a nossa classe.
Pessoalmente, acredito que realmente o bom jornalista não precisa de um diploma na parede para demonstrar a sua competência, que deve ser verificada na acurácia da apuração das informações, no bom texto, na qualidade de suas fontes. Mas defendo que ninguém sai o mesmo após fazer uma faculdade de jornalismo. Lá, não se aprende apenas o linguajar da área ou como escrever uma matéria. É preciso estudar psicologia, cultura, antropologia, teoria da comunicação, informática, fotografia, entre outras disciplinas. Ao final de quatro anos, garanto que se adquire uma visão de mundo imprenscindível para quem quer ser jornalista.
Mas mesmo assim, vejo colegas batendo cabeça, muitos sem posição definida sobre este assunto. Uns revoltados com Gilmar Mendes e seus blue caps, outros defendendo com unhas e dentes a decisão dos magistrados. Em menos de um ano, a Lei de Imprensa foi pro saco e agora é extinta a única regulamentação legal da profissão. Por isso eu digo: os maiores culpados pela bagunça que é a profissão somos nós mesmos, os jornalistas.
Sim, nós que aceitamos trabalhar ganhando uma mixaria e sem carteira assinada. Nós que aceitamos arcar com nossos próprios direitos trabalhistas aceitando empregos sob o regime de pessoa jurídica. Nós que aceitamos fazer três laudas de entrevista com o maior anunciante do jornal, enquanto as verdadeiras notícias brigam por duas ou três colunas da última página. Nós que não temos um órgão verdadeiramente representativo da categoria, que se divide entre Fenaj, ABI, SJSP… PQP!
Enquanto nós, jornalistas que realmente amamos nossa profissão e matamos vários leões por dia em busca da manchete desconhecida, não tomarmos vergonha na cara e lutarmos de verdade pela dignidade da profissão, continuaremos sendo motivo de chacota da opinião pública e moeda de troca do poder econômico deste País.
Jornalistas, paremos as máquinas do conformismo, antes que elas nos parem!
Pois é, Allan, a polêmica é grande.
Concordo em partes contigo.
Para mim, há diversos pontos a serem analisados e pensados…
É falta de respeito tirar a necessidade do diploma para o jornalista. Isso é uma habilitação que deve ser conquistada após um processo acadêmico que acaba por ser desvalorizado com essa norma.
Por outro lado, não sou contra ter psicólogos, sociólogos, pedagogos, entre outros profissionais que entendem demais sobre um determinado assunto, escreverem sobre isso. Há muita gente que domina muito bem a arte da escrita e, assim, poderá escrever de forma mais profunda, como conhecedor do que escreve, mesmo sem ser formado em comunicação social.
E aí, sim, acredito que há parcela de culpa dos jornalistas, que sempre implicaram por essas pessoas serem adotadas em veículos diversos de imprensa, como comentaristas ou escritores de artigos, textos (com exceção da pobreza daqueles que se dizem repórteres e “fazedores de matéria” em programas de humor, variedades e superficialidades).
Sobre esse sentimento de passividade da classe, levantado por você, acredito que em parte você tenha razão, mas é preciso ver a realidade do mercado de trabalho brasileiro. É a hora em que o candidato escolhe: obter um emprego fora da área ou aproveitar a oportunidade de estar na área.
Em meus breves dois anos como repórter do jornal da minha Cidade (após passar por estágios em jornais comunitários em Praia Grande e Cubatão, além de Assessoria de Imprensa de Praia Grande), vi que é possível sim, apesar de ter de escrever matérias comerciais (que bancam a empresa, o jornal), é possível sim, fazer outras matérias partidas de boas pautas, com propósitos louváveis e com resultados altamente benéficos à comunidade, aos leitores.
O controle dessas questões trabalhistas infelizmente está fora do alcance dos profissionais: faz parte de uma realidade bem mais complexa. No meu caso, foi a única opção que vi, a de permanecer na profissão, poder manter meu texto, exercitar a reportagem e todos os aspectos que muitos de meus colegas (e você deve conhecer outros também) não o podem fazer, por estar na famosa situação “fora da área”. Mesmo eu registrado como redator (ao invés de jornalista ou repórter de fato), sei que aqui tenho uma base para traçar meus objetivos na profissão, mesmo aquém de receber o que o piso mínimo salarial prevê.
Não sei como funciona em outras empresas/jornais, mas sei que aqui são essas as condições que me são mais fáceis no momento, mas nem por isso deixo de passar meus objetivos, meus ideais e o que eu acredito, por meio de meu trabalho diário, por meio de minhas palavras, lides, expressões e abordagens!
É preciso sim, ir atrás de reconhecimento para a classe (que como muitas outras, mostra-se sem união e desinteressada, sobretudo nesse momento) e conquistar melhor abertura de trabalho, mas é preciso levar em conta, que muitos de nós precisa, antes de tudo, de uma profissão para sobreviver, para custear a vida que almeja (as mensalidades caras e difíceis tempos de academia podem dizer isso).
É isso,
Abração, Allan!